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O Lado Ruim da Vida

 

Esse título não é para chamar um texto no qual se valoriza as faces negativas da vida. Sabemos que quando a ótica que enxergamos e interpretamos a vida se torna embaçada, esfumaçada, tendemos a direcionar nossa atenção somente para os aspectos negativos. Essa é a famosa visão negativista da vida, pois só preza pelo pior. Mas também não quero defender aqueles otimistas desvairados que tendem a negar e evitar a todo custo o lado ruim da vida. Nem no otimista nem no negativista se encontra o equilíbrio ou a medida para uma vida crescente e potente, mas sim, justamente no equilibrista, no realista, existe a possibilidade da completude. Dessa maneira, esse texto chama a atenção para um olhar à uma visão realista, mas esperançosa na vida. Afinal, tudo está entrelaçado. O lado ruim com o lado bom, o dia com a noite, o sol com a lua, a alegria com a tristeza, a fome com a satisfação, a dor com o alívio, a vida com a morte.

A vida é uma jornada de inúmeros altos e baixos que se interagem constantemente entre si. É preciso saber apreciar o lado bom da vida e a reconhecer nossas pequenas conquistas. Mas também precisamos saber apreciar aquilo que os momentos ruins trazem. Esse lado ruim da nossa condição de existir é parte essencial e inevitável da experiência humana. Evitar constantemente desafios, por exemplo, impede o desenvolvimento da capacidade de enfrentar e superar desafios que se tornarão importantes para fortalecer o organismo e contribuir para o crescimento pessoal. O lado bom e o lado ruim da vida se encontram interligados e não podemos experimentar plenamente um sem o outro. Aceitando e reconhecendo ambos os lados da vida é que poderemos encontrar equilíbrio e significado para nossas vidas. Negar as dificuldades, as dores, a tristeza, as perdas, a velhice, a morte, entre outras angústias inatas à condição de ser humano, não beneficiará nosso crescimento pessoal e a vivência de uma vida realizadora. Ao contrário, favorecerá uma vida alienada que nega os fatos cruciais da condição humana e da própria história, contribuindo para uma percepção distorcida e desintegrada de si e do mundo.

Uma vida plena é uma vida integrada. Integramos nossa experiência no campo da consciência e quanto mais consciente das nossas vivências, sejam positivas ou negativas, mais plenos nos tornamos. Um caminho certo para o desespero e para a angústia existencial é o se tornar desintegrado, alienado das mazelas do mundo e da sua própria história e constituição. Desintegrada de suas próprias vivências, a pessoa não consegue viver a vida em sua integralidade e se fecha nesse mundo particular que teima em tampar o sol com a peneira. Quem tampa o sol com a peneira ainda não se sente pronto para olhar de frente para algumas vivências subjetivas ou experiências traumáticas e por isso as negam na tentativa de evitar a dor, a tristeza e as angústias que trazem. Porém, é na reflexão de tudo aquilo que nos atravessa, seja a vida ou seja a morte, que conseguimos integrar nossa experiência em nossa consciência e nos tornamos plenos para escolhermos uma vida que nos seja existencialmente significativa.

Tiago Henrique O. Lima


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